terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Post 005 - Dia de Drummond: Receita de ano novo!


E o dia 31, é, agora, o "Dia de Drummond", para que possamos ler e aprender mais sobre este autor, que também foi Cronista e Contista!


Hoje, vocês podem ler o poema: Receita de ano novo, e se preparar para 2014 com muita alegria!

Receita de ano novo

Carlos Drummond de Andrade

Para você ganhar belíssimo Ano Novo 
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz, 
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido 
(mal vivido talvez ou sem sentido) 
para você ganhar um ano 
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras, 
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser; 
novo 
até no coração das coisas menos percebidas 
(a começar pelo seu interior) 
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota, 
mas com ele se come, se passeia, 
se ama, se compreende, se trabalha, 
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita, 
não precisa expedir nem receber mensagens 
(planta recebe mensagens? 
passa telegramas?)

Não precisa 
fazer lista de boas intenções 
para arquivá-las na gaveta. 
Não precisa chorar arrependido 
pelas besteiras consumidas 
nem parvamente acreditar 
que por decreto de esperança 
a partir de janeiro as coisas mudem 
e seja tudo claridade, recompensa, 
justiça entre os homens e as nações, 
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal, 
direitos respeitados, começando 
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo 
que mereça este nome, 
você, meu caro, tem de merecê-lo, 
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil, 
mas tente, experimente, consciente. 
É dentro de você que o Ano Novo 
cochila e espera desde sempre.

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Post 004 - Dia de Drummond: Não passou.


E o dia 31, é, agora, o "Dia de Drummond", para que possamos ler e aprender mais sobre este autor, que também foi Cronista e Contista!

Hoje, vocês podem ler o poema: "Não passou", e se preparar para grandes emoções...

Não passou

Carlos Drummond de Andrade

Passou? 
Minúsculas eternidades 
deglutidas por mínimos relógios 
ressoam na mente cavernosa.

Não, ninguém morreu, ninguém foi infeliz. 
A mão- a tua mão, nossas mãos- 
rugosas, têm o antigo calor 
de quando éramos vivos. Éramos?

Hoje somos mais vivos do que nunca. 
Mentira, estarmos sós. 
Nada, que eu sinta, passa realmente. 
É tudo ilusão de ter passado.






sábado, 31 de agosto de 2013

Post 003 - Dia de Drummond: A um ausente


E o dia 31, é, agora, o "Dia de Drummond", para que possamos ler e aprender mais sobre este autor, que também foi Cronista e Contista!

Hoje, vocês podem ler o poema: "A um ausente", e se preparar para grandes emoções...

  

A um ausente

Carlos Drummond de Andrade

Tenho razão de sentir saudade, 
tenho razão de te acusar. 
Houve um pacto implícito que rompeste 
e sem te despedires foste embora. 
Detonaste o pacto. 
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência 
de viver e explorar os rumos de obscuridade 
sem prazo sem consulta sem provocação 
até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora. 
Teu ponteiro enlouqueceu,

enlouquecendo nossas horas. 
Que poderias ter feito de mais grave 
do que o ato sem continuação, o ato em si, 
o ato que não ousamos nem sabemos ousar 
porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti, 
de nossa convivência em falas camaradas, 
simples apertar de mãos, nem isso, voz 
modulando sílabas conhecidas e banais 
que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades. 
Sim, acuso-te porque fizeste 
o não previsto nas leis da amizade e da natureza 
nem nos deixaste sequer o direito de indagar 
porque o fizeste, porque te foste.

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Post 002 - Dia de Drummond: As sem-razões do amor




E o dia 31, é, agora, o "Dia de Drummond", para que possamos ler e aprender mais sobre este autor, que também foi Cronista e Contista!

Hoje, vocês podem ler o poema: "As sem-razões do amor", e se preparar para grandes emoções...

  

As sem-razões do amor

Carlos Drummond de Andrade

Eu te amo porque te amo, 
Não precisas ser amante, 
e nem sempre sabes sê-lo. 
Eu te amo porque te amo. 
Amor é estado de graça 
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça, 
é semeado no vento, 
na cachoeira, no eclipse. 
Amor foge a dicionários 
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo 
bastante ou demais a mim. 
Porque amor não se troca, 
não se conjuga nem se ama. 
Porque amor é amor a nada, 
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte, 
e da morte vencedor, 
por mais que o matem (e matam) 
a cada instante de amor.


sexta-feira, 31 de maio de 2013

Post 001 - Dia de Drummond: Acordar, viver


E o dia 31, é, agora, o "Dia de Drummond", para que possamos ler e aprender mais sobre este autor, que também foi Cronista e Contista!

Hoje, vocês podem ler o poema: "Acordar, viver", e se preparar para grandes emoções...

  

Acordar, viver

Carlos Drummond de Andrade

Como acordar sem sofrimento? 
Recomeçar sem horror? 
O sono transportou-me 
àquele reino onde não existe vida 
e eu quedo inerte sem paixão.
 
Como repetir, dia seguinte após dia seguinte, 
a fábula inconclusa, 
suportar a semelhança das coisas ásperas 
de amanhã com as coisas ásperas de hoje?

Como proteger-me das feridas 
que rasga em mim o acontecimento, 
qualquer acontecimento 
que lembra a Terra e sua púrpura 
demente? 
E mais aquela ferida que me inflijo 
a cada hora, algoz 
do inocente que não sou?

Ninguém responde, a vida é pétrea.
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