domingo, 31 de agosto de 2014

Dia de Drummond: José




E o dia 31, é, agora, o "Dia de Drummond", para que possamos ler e aprender mais sobre este autor, que também foi Cronista e Contista!

Hoje, vocês podem ler o poema: "José", e se preparar para grandes emoções...

  

José

Carlos Drummond de Andrade

E agora, José? 
A festa acabou, 
a luz apagou, 
o povo sumiu, 
a noite esfriou, 
e agora, José? 
e agora, Você? 
Você que é sem nome, 
que zomba dos outros, 
Você que faz versos, 
que ama, proptesta? 
e agora, José?

Está sem mulher, 
está sem discurso, 
está sem carinho, 
já não pode beber, 
já não pode fumar, 
cuspir já não pode, 
a noite esfriou, 
o dia não veio, 
o bonde não veio, 
o riso não veio, 
não veio a utopia 
e tudo acabou 
e tudo fugiu 
e tudo mofou, 
e agora, José?

E agora, José? 
sua doce palavra, 
seu instante de febre, 
sua gula e jejum, 
sua biblioteca, 
sua lavra de ouro, 
seu terno de vidro, 
sua incoerência, 
seu ódio, - e agora?

Com a chave na mão 
quer abrir a porta, 
não existe porta; 
quer morrer no mar, 
mas o mar secou; 
quer ir para Minas, 
Minas não há mais. 
José, e agora?

Se você gritasse, 
se você gemesse, 
se você tocasse, 
a valsa vienense, 
se você dormisse, 
se você consasse, 
se você morresse.... 
Mas você não morre, 
você é duro, José!

Sozinho no escuro 
qual bicho-do-mato, 
sem teogonia, 
sem parede nua 
para se encostar, 
sem cavalo preto 
que fuja do galope, 
você marcha, José! 
José, para onde?
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